A prancha repousa , firme, no robusto banco do mestre,
Qual centro de operações onde tudo se decide,
Se comanda,
Onde a capacidade inventiva do artífice impera,
Na imaginação redobrada que corre e rodopia qual ciranda.
A mão planteia a peça.
De seguida, a mesma mão, corta, entalha, fura...
Galga a madeira com o graminho,
Onde risca sulcos em traços paralelos entre si,
Que lembram halos diáfanos de beleza pura.
Vai depois, a peça, ao torno da marcha movido pelo pedal,
Que em rotação gira qual roleta impaciente,
Onde se arrancam as formas que a paixão decide,
Arquitectadas num imaginário vasto, rico e irreal.
É preciso que a garlopa cumpra o seu dever,
Ora arrancar, com garra, as arestas sinuosas,
Ora acariciar a face branda...
Que de tanto desbastar já faz doer.
Por fim o mestre contempla a obra terminada.
Sabe, contudo, que sem a cumplicidade dos utensílios ancestrais,
Das ferramentas, testemunhos materiais,
A peça não seria de todo partilhada.
E sendo assim...
O fruidor da obra se deleite no prazer
Pois…
" o trabalho artesanal é…
a melhor forma de preservar a memória de um saber"