RESPOSTA SURPREENDENTE

Ninguém dava por ele. Era pequeno, mal vestido, e não fossem os soluços ninguém dava por ele, ninguém diria que estava ali.
Filho duma família pobre e pouco ajustada às realidades, o Zeca era urn miúdo infeliz. Não ia à escola. Lá em casa ninguém se importava!
A mãe berrava, o pai e os irmãos degladiavam-se entre si, era um inferno.
A casa era pequena e para dormir quase ficavam uns em cima dos outros. A chuva entrava, às vezes, pelos buracos do telhado.
Sentado à mesa, frente a uma tigela de barro, o Zeca pediu mais sopa.
- Não há mais - Diz a mãe. O Manuel comeu duas malgas.
- Mas eu quero mais, tenho fome.
- Não sei que te faça. Não tenho couves nem arroz nem azeite, olha nem dinheiro!
E era isto todos os dias. E tantos foram!...
Os vizinhos adoravam-no, e quando percebiam que as coisas não estavam bem, acarinhavam-nos mais. Ele porém do alto do seu orgulho, fugia e não mostrava o que lhe ia na alma.
Naquele dia em que o encontrámos, estava diferente. Uma angústia lhe apertava o coração. Por horizonte tinha apenas uma parede esburacada, quase em ruína, uma rua suja e lamacenta, a desembocar, num largo, coberto por uma velha ramada, donde de vez em quando caía uma folha seca, amarelecida. Nenhum som agradável se ouvia. Era um silêncio que se sentia pesado, doentio, assustador. O Zeca não se lembrava sequer de ir para a cama. Também ninguém o procurava!...
Ouviam-se passos ao longe. Mais perto, cada vez mais perto... e paravam frente ao miúdo.
- Que fazes aqui a esta hora, rapaz? E a chorar dessa maneira? perguntou o homem que passava.
O miúdo levantou os olhos e disse em voz magoada;
- O meu pai bateu na minha mãe.
O homem para o animar perguntou, em tom de brincadeira
- E tu por quem és?
O Zeca mudando de tom respondeu! - Ora eu sou pelo Porto.
O homem sorriu, mas para alimentar a conversa, e bem dispor o rapazito, ainda perguntou: E tu não és pelo Freamunde?
-Eu não! Para quê! Diz o meu pai que dantes é que era bonito, quando jogávamos com o Paços! Ganhávamos sempre!
- Olha vem comigo, vais jantar comigo e vou le
var-te ao Estádio. E vais treinar para seres jogador.
- Eu tenho fome! Não posso jogar!
- Vá vem daí.
Vou falar com o teu pai, e vais passar a comer na minha casa. Para a tua mãe vou arranjar emprego na minha camisaria. Mas tens de ser pelo Freamunde!
O fanatismo também gera solidariedade.