DO LARGO A CIDADE... AO LARGO!
2007
A rapariga de ténis vermelhos espera que alguém a contacte pelo telemóvel e deixa que o seu cão corra, divertido, com o do rapaz de blusão azul... Não se sabe porque razão estão ali ou porque trouxeram com eles o cão, preto e malhado, que aproveitam para brincar.
Há anos, bastantes, aquele Largo era um sítio de repouso, de conversas animadas, de espaço livre, arejado, que dava para gozar. Hoje é quase só um ponto de paragem para automóveis, que se mostram, que enchem quase todo o espaço e o jardim sem flores, esconde-se das pessoas que passam ou ficam entretidas por ali. Não tem árvores. O vento, quando sopra, varre as pontas de cigarros que se deixam cair, e arrasta até aos cantos escondidos, os papéis e as coisas pequeninas atiradas para o chão. O pó redemoinha e cai na água da fonte que escorrega e que não vai para sítio nenhum.
No domingo de Verão, só a rapariga de ténis vermelhos e o rapaz de azul, quebram a melancolia do Largo em tarde de Verão.
O tempo matou o Largo. Mudou-o. Sob o piso que agora é duro, de pedrínhas, ficaram os segredos e as conversas dos homens que o enchiam de vida nas tardes quentes e nos dias soalheiros de Primavera. A senhora Linda, tisnada e seca, de vassoura na mão, varre-o para o conservar. O senhor João ainda o usa para o carro e gosta do Largo como se fosse seu. Os lavradores já não o cruzam de sachola ao ombro e as bicicletas que outrora o enchiam, quase desapareceram. A única árvore do centro agita-se com o vento, viçosa, e o cão da rapariga de ténis vermelhos continua a saltar...
O Largo deixou de ser um centro da terra a que pertence. Ali, já não se contam novidades, já não há bêbados ao sábado à noite e o pó dos paralelos, quentes no calor do Verão, suja os ténis vermelhos da rapariga,
-Então, vamos ficar aqui?
-Não, nada disso, nem pensar!
E o telemóvel, até agora esquecido, toca. Alguém, do outro lado, está a chamar. Não é fácil deixar que o silêncio se imponha. O Largo está cheio de carros estacionados e na estrada, em frente, o barulho dos automóveis continua a comandar a tarde de domingo.
Era por lá, na estrada, que se percebia que o silêncio e o sossego de outrora, desapareceram. Os carros, apressados, passavam e deixavam adivinhar as horasde cansaço que os passageiros, nessa tarde de domingo, viviam. No fundo do Largo, as casas, escondidas da estrada, impunham algum silêncio na tarde. Fazia--se comida, ao lado, e no café vizinho, aos gritos, discutia-se futebol.
A rapariga dos ténis vermelhos, guardou o telemóvel, Chamou o cão, habituado ao movimento dos carros e, num gesto apressado, avançou para a mota do rapaz de blusão azul. O barulho do motor interrompeu o cair repetido da água da fonte e, colocados os capacetes, a moto arrancou.
Ninguém mais estava ali, ninguém veio para ver quem deixava o Largo, agora mais despido de gente na tarde de domingo. Os homens continuavam no café, o cheiro da comida crescia à medida que o vento soprava mais forte e a rapariga de ténis vermelhos saíra na busca de um mundo com mais emoções.
- Podes andar, dizia ela.
- Como, não vês?
Na verdade, a meio da metade do trajecto que queriam fazer para chegar à cidade, uma multidão atordoada, atraída pelo barulho quente que chegava da aparelhagem fora de moda, entretinha-se a conversar. Nos passeios, na estrada que foi feita para que a gente não estivesse ali. Os carrosséis rodavam com os miúdos que acenavam aos pais à espera do fim de mais uma viagem... O homem do algodão doce e o outro, dos balões, lamentavam-se porque o negócio já não é o que era.
E a rapariga de ténis vermelhos, abrasada d
calor, irritada na interrupção da viagem forçada a fazer, maldizia a gente que estava na festa e barafustava contra a asa branca de um anjinho, assustado, meio perdido, ainda por ali.
- Eh pá, avança, empurra esta gente que não tem
que fazer!
- E o semáforo, normalmente cumpridor do tem
po que deve durar a cor que cada um respeita, estava
interrompido. Nada! Naquele domingo de festa, o ra
paz de blusão azul não podia avançar...
Impedia-o a gente que enchia a estrada em tarde de domingo, soalheira. Barafustou, deu ao motor a mesma raiva que a confusão da festa lhe trazia e o barulho ensurdecedor afastou a multidão que, sem olhar a quem, deu passagem aos dois perturbadores da tradição que a festa teimava impor.
Seguiram ligeiros até à cidade que apareceu vestida de domingo. Um casal, aqui e ali, olhava as montras enfeitadas, cheias de cor, para atrair. Há um grupo que conversa animado em torno de qualquer coisa que não se consegue detectar. Diante dos cafés, as esplanadas cheias de gente, vencem as horas quentes de uma tarde de domingo que muitos aproveitam para conversar. Debaixo da carvalheira, os velhotes recordam o tempo ido e olham, em jeito pensativo, as flores garridas que a época trouxe ao jardim.
- Que fazemos? Disse a rapariga de ténis verme
lhos.
- Bolas... Depois da corrida, é tempo de descan
sar... De beber, não queres?
E foram. Passaram à porta do bar que um grupito de jovens olhava como se fosse qualquer coisa a descobrir. Não havia nada de especial ali, nenhum programa de nenhuma festa estava para acontecer. Aquela gente jovem, entretida, falava de tudo e de nada como se não houvesse outra coisa para fazer. A mistura, sentia-se o odor dos corpos quentes que saía do interior. E um som morno, de música perdida, chamava e pedia à gente para ficar.
Sentaram-se. Pediram qualquer coisa para beber. Olharam. Fixaram os casais que riam ao fundo da sala. Havia no espaço do bar qualquer coisa que barrava para a atmosfera do exterior. O som quente da música, agora mais alto, impedia os jovens de conversar. Mas também não queriam! Estavam ali como quem está perdido numa tarde em que não há outra coisa para fazer. Misturavam as conversas com gestos de prazer e de não saber o que estava para acontecer ali.
- Gostas? Dizia o rapaz de blusão azul.
E a rapariga, companheira daquela tarde de domingo, sem olhar, sem ver o que estava diante de si, atalhou.
- Não! Nem pensar! Prefiro sair daqui...
Então, deixaram que outra nuvem de fumo opaco
se desfizesse diante deles, esvaziaram o líquido estranho dos copos que não chegaram a apreciar e, ligeiros, de empurrão em empurrão, pousaram no exterior.
- E agora? Que fazemos? Disse ela.
Ouvia-se, do outro lado, um som que saía de um
instrumento musical que os jovens não identificaram.
-Vamos ver... Há música no escadório do Museu, vem!
E foram ao outro lado do jardim. Muita gente olhava, deleitada, o grupo que se preparava para mais um momento musical. Vestidos de negro, sentados, preparavam-se para tocar uma qualquer melodia que os presentes, impacientes e atentos, pareciam desejar. A rapariga de ténis vermelhos deu um passo no meio da pequena multidão que se concentrava. Puxou o rapaz de blusão azul e, mecanicamente, ambos se aninharam para poderem saborear o momento que estava a acontecer. Suavemente, a música foi soando e fez-se silêncio na Praça. Nenhuma voz, nenhum gríto, ninguém quis interromper o som quente e agradável que vinha daquele grupo que tocava em tarde de domingo. As pessoas, em silêncio, ondulavam o corpo como se a melodia os convidasse à dança. Um ou outro, mais animado, erguia os braços como se quisesse exprimir o entusiasmo que a música lhes transmitia. Um minuto, dois, três e a música a crescer no silêncio do público da Praça e as pessoas continuam animadas, em silêncio.
Projectam-se os últimos sons que embalaram os corpos e encheram a alma dos presentes e, num impulso, soltam-se os aplausos da pequena multidão. Palmas, muitas palmas a mostrar o agrado de todos os que estiveram ali. Os dois jovens, agora de pé, olharam-se, tocaram as mãos em silêncio e deixaram perceber que estavam felizes, assim... Tarde de Verão e a música a encher a alma dos que ficam e sabem sa-
borear... Fim da tarde de um domingo de calor e o som quente a encher de entusiasmo os corpos amolecidos dos que quiseram aproveitar. E depois outra melodia, outra mais longa ainda, até que se percebeu que a seguinte seria para chegar ao fim. Em silêncio, a pequena multidão dispersou e a rapariga de ténis vermelhos seguiu o rapaz para o outro lado.
Olharam o coreto que lhes pareceu estar ali para ser visto como se fosse a primeira vez. Deixaram que os olhos descobrissem a cor e a forma da trepadeira que o cobria sem ter pedido qualquer autorização. Num gesto rápido, acordaram na decisão de seguir em frente. E estava ali o lago que outras vezes, muitas, não olharam. Agradou-lhes ver o corrupio dos peixes que nunca tinham pressentido. O jardim, escondido e triste outras vezes, pareceu-lhes mais alegre e colorido naquela tarde de domingo...
- Que horas são? Disse a rapariga de ténis ver
melhos.
- Deixa ver, já é tarde. Vamos!
E os dois, voltaram para a mota, bem quieta, que os esperava. O barulho do motor roncou suave, mais forte e, num instante, chegaram ao Largo de onde tinham saído. A água da fonte continuava a correr, os carros que estiveram estacionados, desapareceram e os cães que tinham deixado a brincar, não quiseram esperar os donos.
- Afinal, como se chama este Largo?
- Não sei bem, disse a rapariga dos ténis verme
lhos.
-Tem no nome um santo, o Senhor dos Aflitos, acho eu.
- E que importa, disse ele. Nem quero saber. Para nós, não foi sempre, só, o Largo?
Já era tarde, sentia-se. A noite vestira-se há muito de estrelas e o silêncio deixava adivinhar que o sono invadira os que antes passaram ali.
Algumas horas depois, compassadamente, o Largo voltará a acordar para um dia que se quer novo, mais vivo e diferente...
Há anos, bastantes, aquele Largo era um sítio de repouso, de conversas animadas, de espaço livre, arejado, que dava para gozar. Hoje é quase só um ponto de paragem para automóveis, que se mostram, que enchem quase todo o espaço e o jardim sem flores, esconde-se das pessoas que passam ou ficam entretidas por ali. Não tem árvores. O vento, quando sopra, varre as pontas de cigarros que se deixam cair, e arrasta até aos cantos escondidos, os papéis e as coisas pequeninas atiradas para o chão. O pó redemoinha e cai na água da fonte que escorrega e que não vai para sítio nenhum.
No domingo de Verão, só a rapariga de ténis vermelhos e o rapaz de azul, quebram a melancolia do Largo em tarde de Verão.
O tempo matou o Largo. Mudou-o. Sob o piso que agora é duro, de pedrínhas, ficaram os segredos e as conversas dos homens que o enchiam de vida nas tardes quentes e nos dias soalheiros de Primavera. A senhora Linda, tisnada e seca, de vassoura na mão, varre-o para o conservar. O senhor João ainda o usa para o carro e gosta do Largo como se fosse seu. Os lavradores já não o cruzam de sachola ao ombro e as bicicletas que outrora o enchiam, quase desapareceram. A única árvore do centro agita-se com o vento, viçosa, e o cão da rapariga de ténis vermelhos continua a saltar...
O Largo deixou de ser um centro da terra a que pertence. Ali, já não se contam novidades, já não há bêbados ao sábado à noite e o pó dos paralelos, quentes no calor do Verão, suja os ténis vermelhos da rapariga,
-Então, vamos ficar aqui?
-Não, nada disso, nem pensar!
E o telemóvel, até agora esquecido, toca. Alguém, do outro lado, está a chamar. Não é fácil deixar que o silêncio se imponha. O Largo está cheio de carros estacionados e na estrada, em frente, o barulho dos automóveis continua a comandar a tarde de domingo.
Era por lá, na estrada, que se percebia que o silêncio e o sossego de outrora, desapareceram. Os carros, apressados, passavam e deixavam adivinhar as horasde cansaço que os passageiros, nessa tarde de domingo, viviam. No fundo do Largo, as casas, escondidas da estrada, impunham algum silêncio na tarde. Fazia--se comida, ao lado, e no café vizinho, aos gritos, discutia-se futebol.
A rapariga dos ténis vermelhos, guardou o telemóvel, Chamou o cão, habituado ao movimento dos carros e, num gesto apressado, avançou para a mota do rapaz de blusão azul. O barulho do motor interrompeu o cair repetido da água da fonte e, colocados os capacetes, a moto arrancou.
Ninguém mais estava ali, ninguém veio para ver quem deixava o Largo, agora mais despido de gente na tarde de domingo. Os homens continuavam no café, o cheiro da comida crescia à medida que o vento soprava mais forte e a rapariga de ténis vermelhos saíra na busca de um mundo com mais emoções.
- Podes andar, dizia ela.
- Como, não vês?
Na verdade, a meio da metade do trajecto que queriam fazer para chegar à cidade, uma multidão atordoada, atraída pelo barulho quente que chegava da aparelhagem fora de moda, entretinha-se a conversar. Nos passeios, na estrada que foi feita para que a gente não estivesse ali. Os carrosséis rodavam com os miúdos que acenavam aos pais à espera do fim de mais uma viagem... O homem do algodão doce e o outro, dos balões, lamentavam-se porque o negócio já não é o que era.
E a rapariga de ténis vermelhos, abrasada d
calor, irritada na interrupção da viagem forçada a fazer, maldizia a gente que estava na festa e barafustava contra a asa branca de um anjinho, assustado, meio perdido, ainda por ali.
- Eh pá, avança, empurra esta gente que não tem
que fazer!
- E o semáforo, normalmente cumpridor do tem
po que deve durar a cor que cada um respeita, estava
interrompido. Nada! Naquele domingo de festa, o ra
paz de blusão azul não podia avançar...
Impedia-o a gente que enchia a estrada em tarde de domingo, soalheira. Barafustou, deu ao motor a mesma raiva que a confusão da festa lhe trazia e o barulho ensurdecedor afastou a multidão que, sem olhar a quem, deu passagem aos dois perturbadores da tradição que a festa teimava impor.
Seguiram ligeiros até à cidade que apareceu vestida de domingo. Um casal, aqui e ali, olhava as montras enfeitadas, cheias de cor, para atrair. Há um grupo que conversa animado em torno de qualquer coisa que não se consegue detectar. Diante dos cafés, as esplanadas cheias de gente, vencem as horas quentes de uma tarde de domingo que muitos aproveitam para conversar. Debaixo da carvalheira, os velhotes recordam o tempo ido e olham, em jeito pensativo, as flores garridas que a época trouxe ao jardim.
- Que fazemos? Disse a rapariga de ténis verme
lhos.
- Bolas... Depois da corrida, é tempo de descan
sar... De beber, não queres?
E foram. Passaram à porta do bar que um grupito de jovens olhava como se fosse qualquer coisa a descobrir. Não havia nada de especial ali, nenhum programa de nenhuma festa estava para acontecer. Aquela gente jovem, entretida, falava de tudo e de nada como se não houvesse outra coisa para fazer. A mistura, sentia-se o odor dos corpos quentes que saía do interior. E um som morno, de música perdida, chamava e pedia à gente para ficar.
Sentaram-se. Pediram qualquer coisa para beber. Olharam. Fixaram os casais que riam ao fundo da sala. Havia no espaço do bar qualquer coisa que barrava para a atmosfera do exterior. O som quente da música, agora mais alto, impedia os jovens de conversar. Mas também não queriam! Estavam ali como quem está perdido numa tarde em que não há outra coisa para fazer. Misturavam as conversas com gestos de prazer e de não saber o que estava para acontecer ali.
- Gostas? Dizia o rapaz de blusão azul.
E a rapariga, companheira daquela tarde de domingo, sem olhar, sem ver o que estava diante de si, atalhou.
- Não! Nem pensar! Prefiro sair daqui...
Então, deixaram que outra nuvem de fumo opaco
se desfizesse diante deles, esvaziaram o líquido estranho dos copos que não chegaram a apreciar e, ligeiros, de empurrão em empurrão, pousaram no exterior.
- E agora? Que fazemos? Disse ela.
Ouvia-se, do outro lado, um som que saía de um
instrumento musical que os jovens não identificaram.
-Vamos ver... Há música no escadório do Museu, vem!
E foram ao outro lado do jardim. Muita gente olhava, deleitada, o grupo que se preparava para mais um momento musical. Vestidos de negro, sentados, preparavam-se para tocar uma qualquer melodia que os presentes, impacientes e atentos, pareciam desejar. A rapariga de ténis vermelhos deu um passo no meio da pequena multidão que se concentrava. Puxou o rapaz de blusão azul e, mecanicamente, ambos se aninharam para poderem saborear o momento que estava a acontecer. Suavemente, a música foi soando e fez-se silêncio na Praça. Nenhuma voz, nenhum gríto, ninguém quis interromper o som quente e agradável que vinha daquele grupo que tocava em tarde de domingo. As pessoas, em silêncio, ondulavam o corpo como se a melodia os convidasse à dança. Um ou outro, mais animado, erguia os braços como se quisesse exprimir o entusiasmo que a música lhes transmitia. Um minuto, dois, três e a música a crescer no silêncio do público da Praça e as pessoas continuam animadas, em silêncio.
Projectam-se os últimos sons que embalaram os corpos e encheram a alma dos presentes e, num impulso, soltam-se os aplausos da pequena multidão. Palmas, muitas palmas a mostrar o agrado de todos os que estiveram ali. Os dois jovens, agora de pé, olharam-se, tocaram as mãos em silêncio e deixaram perceber que estavam felizes, assim... Tarde de Verão e a música a encher a alma dos que ficam e sabem sa-
borear... Fim da tarde de um domingo de calor e o som quente a encher de entusiasmo os corpos amolecidos dos que quiseram aproveitar. E depois outra melodia, outra mais longa ainda, até que se percebeu que a seguinte seria para chegar ao fim. Em silêncio, a pequena multidão dispersou e a rapariga de ténis vermelhos seguiu o rapaz para o outro lado.
Olharam o coreto que lhes pareceu estar ali para ser visto como se fosse a primeira vez. Deixaram que os olhos descobrissem a cor e a forma da trepadeira que o cobria sem ter pedido qualquer autorização. Num gesto rápido, acordaram na decisão de seguir em frente. E estava ali o lago que outras vezes, muitas, não olharam. Agradou-lhes ver o corrupio dos peixes que nunca tinham pressentido. O jardim, escondido e triste outras vezes, pareceu-lhes mais alegre e colorido naquela tarde de domingo...
- Que horas são? Disse a rapariga de ténis ver
melhos.
- Deixa ver, já é tarde. Vamos!
E os dois, voltaram para a mota, bem quieta, que os esperava. O barulho do motor roncou suave, mais forte e, num instante, chegaram ao Largo de onde tinham saído. A água da fonte continuava a correr, os carros que estiveram estacionados, desapareceram e os cães que tinham deixado a brincar, não quiseram esperar os donos.
- Afinal, como se chama este Largo?
- Não sei bem, disse a rapariga dos ténis verme
lhos.
-Tem no nome um santo, o Senhor dos Aflitos, acho eu.
- E que importa, disse ele. Nem quero saber. Para nós, não foi sempre, só, o Largo?
Já era tarde, sentia-se. A noite vestira-se há muito de estrelas e o silêncio deixava adivinhar que o sono invadira os que antes passaram ali.
Algumas horas depois, compassadamente, o Largo voltará a acordar para um dia que se quer novo, mais vivo e diferente...