PASSAGEM DE TESTEMUNHO
2007
Faustino continuou a subir o monte mal-humo-rado, sentindo-se injustiçado por tudo.
Passava orações à frente e respondia desconexa-damente.
- Vê se prestas atenção às rezas e se pelo menos
cantas direito as orações da novena.
- Está bem pai, eu acompanho o coro.
As pessoas um pouco mais instruídas, juntamente com o padre, cantavam:
Pois que este núncio celeste
Te anuncia e Te saúda
Nesta habitação terrestre
De Eva em Avé o nome muda.
As suas vozes eram abafadas pelo grosso da multidão que entusiasticamente repetia em tom de cana rachada:
Vós que sois um são celeste
Que anuncia de saúde
Nesta vida são serreste
Da minha, mínhão, minhude.
Faustino acompanhava a maioria sem reparar no sorriso trocista do pai.
O canto prolongava-se com vozes a deitar por "riba" arrastando-se as últimas sílabas.
A rudeza das feições escondia corações sensíveis que se comoviam perante as manifestações colectivas de fé e os cânticos eram frequentemente entremeados com soluços e assoadelas-
A senhora do Pilar, colocada na pequena ermida juntamente com Sto. Humberto, advogado dos caçadores, S. Caetano, e S. Miguel Arcanjo a calcar o diabo, sorria aos seus devotos que não se cansavam de implorar a sua misericordiosa protecção.
As escadas de acesso à ermida eram esculpidas na rocha e como não tinham qualquer protecção lateral, tornavam-se perigosas. Faustino e o pai aguardaram que todos descessem para o fazerem calmamente.
- Ó pai, não arranjariam um sítio melhor para
fazer a ermida do que no cimo deste grande penedo?!
- Esta penha, maior do que todas as outras, é que deu o nome a Penamaior e por isso não achas ser aqui a localização certa da ermida?
- Sendo assim concordo..., mas se aqui nasceu o nome da terra, porque é um lugar inabitado?!
- Então não vês que se trata de uma zona montanhosa, boa para o pastoreio?
A descoberta do castro da Vila, indica-nos que aqui viveram, ou se refugiaram, povos da época pré--romana e romana.
Há quem diga que a freguesia começou a desenvolver-se à volta de uns casais em Sta. Marinha, perto da capela, pertença de ricos homens.
Á medida que a população foi aumentando, foi-se espalhando e desbravando as terras mais férteis para a lavoura, mas o pastoreio continuou a ser a principal actividade dos nossos antepassados, durante muito tempo.
A agricultura foi-se desenvolvendo, foram aparecendo novos produtos e começou a criação do gado bovino para ajudar na lida da terra.
- Caramba, sem os bois, quem puxava o arado eram os homens! Coitados, se a nossa vida não é fácil, a deles era bem pior!
Mas...se as terras eram monte, sem dono, como se fez a sua distribuição para haver tantos caseiros e poucos senhorios?
- Estas terras tinham dono. Dizem que pertenceram a cavaleiros da ordem monástico-militar dos Templários que estavam implantados em S. Pedro de Ferreira, num convento já inexistente e junto do qual apenas existe o Mosteiro
Passava orações à frente e respondia desconexa-damente.
- Vê se prestas atenção às rezas e se pelo menos
cantas direito as orações da novena.
- Está bem pai, eu acompanho o coro.
As pessoas um pouco mais instruídas, juntamente com o padre, cantavam:
Pois que este núncio celeste
Te anuncia e Te saúda
Nesta habitação terrestre
De Eva em Avé o nome muda.
As suas vozes eram abafadas pelo grosso da multidão que entusiasticamente repetia em tom de cana rachada:
Vós que sois um são celeste
Que anuncia de saúde
Nesta vida são serreste
Da minha, mínhão, minhude.
Faustino acompanhava a maioria sem reparar no sorriso trocista do pai.
O canto prolongava-se com vozes a deitar por "riba" arrastando-se as últimas sílabas.
A rudeza das feições escondia corações sensíveis que se comoviam perante as manifestações colectivas de fé e os cânticos eram frequentemente entremeados com soluços e assoadelas-
A senhora do Pilar, colocada na pequena ermida juntamente com Sto. Humberto, advogado dos caçadores, S. Caetano, e S. Miguel Arcanjo a calcar o diabo, sorria aos seus devotos que não se cansavam de implorar a sua misericordiosa protecção.
As escadas de acesso à ermida eram esculpidas na rocha e como não tinham qualquer protecção lateral, tornavam-se perigosas. Faustino e o pai aguardaram que todos descessem para o fazerem calmamente.
- Ó pai, não arranjariam um sítio melhor para
fazer a ermida do que no cimo deste grande penedo?!
- Esta penha, maior do que todas as outras, é que deu o nome a Penamaior e por isso não achas ser aqui a localização certa da ermida?
- Sendo assim concordo..., mas se aqui nasceu o nome da terra, porque é um lugar inabitado?!
- Então não vês que se trata de uma zona montanhosa, boa para o pastoreio?
A descoberta do castro da Vila, indica-nos que aqui viveram, ou se refugiaram, povos da época pré--romana e romana.
Há quem diga que a freguesia começou a desenvolver-se à volta de uns casais em Sta. Marinha, perto da capela, pertença de ricos homens.
Á medida que a população foi aumentando, foi-se espalhando e desbravando as terras mais férteis para a lavoura, mas o pastoreio continuou a ser a principal actividade dos nossos antepassados, durante muito tempo.
A agricultura foi-se desenvolvendo, foram aparecendo novos produtos e começou a criação do gado bovino para ajudar na lida da terra.
- Caramba, sem os bois, quem puxava o arado eram os homens! Coitados, se a nossa vida não é fácil, a deles era bem pior!
Mas...se as terras eram monte, sem dono, como se fez a sua distribuição para haver tantos caseiros e poucos senhorios?
- Estas terras tinham dono. Dizem que pertenceram a cavaleiros da ordem monástico-militar dos Templários que estavam implantados em S. Pedro de Ferreira, num convento já inexistente e junto do qual apenas existe o Mosteiro